Para que um empreendimento seja sustentável é necessário que seja socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente correto, porém não é o que se vê em grande parte dos projetos atuais.
Figura 1: Representação da tríade sustentável
Em diversas situações, antigas ou recentes, pode ser percebido um grande apreço ao economicamente viável, enquanto o bem-estar social e a valorização do meio ambiente ficam em segundo plano. Isso é visível tanto no desmatamento em massa da mata atlântica, chegando nos índices de 12,5% da vegetação original, quanto nas recentes catástrofes do rompimento das barragens de rejeitos de Mariana e Brumadinho, que devastaram essas cidades e a vegetação no entorno, prejudicou mais de dez municípios, contaminou o rio Paraopeba e o rio Doce, inviabilizou a distribuição de água em dois estados diferentes e fez centenas de vítimas.
Figura 2: Cidadão da cidade de brumadinho observando a situação atual da cidade
Houve um momento em que não havia preocupações com índices sobre o meio ambiente e o impacto dos empreendimentos na natureza. O momento que vivemos não é esse. O momento atual é de preocupação com os recursos da terra, que não são renováveis, e é de extrema importância colocar em prática o triângulo da sustentabilidade. É possível e necessário fazer com que o economicamente viável não prejudique ambientalmente correto, trazendo o bem-estar social.
Figura 3: Jardim da Baía, Singapura, também conhecido como “Bosque futurista”
Para que isso aconteça é necessário anos de estudo, incentivo e mudança na mentalidade das grandes empresas; todavia, existem algumas alternativas que não são muito conhecidas e se tornam muito interessantes dentro do contexto de sustentabilidade em grandes obras. São elas:
- Utilização de biossólidos na fabricação de tijolos:
No Brasil, o remanejamento dos biossólidos após o tratamento de água traz um gasto de cerca de 50% do dinheiro predestinado à estações de esgoto, e geralmente são colocados em um aterro sanitário. O engenheiro civil australiano Abbas Mohajerani criou uma solução para isso: ele conseguiu substituir a argila utilizada nos tijolos por biossólidos que seriam descartados. Como exposto em seu artigo “Possible Use of Biossolids in Fired-Clay Bricks”, a argila e os biossólidos mostraram propriedades parecidas, tornando viável a fabricação dos mesmos. Apesar do que é utilizado na fabricação do tijolo, seu cheiro e textura são similares a um tijolo cerâmico padrão.
- Utilização de cigarro na fabricação de tijolos:
Nas áreas urbanas e litorâneas brasileiras, bitucas de cigarro podem representar 40% dos resíduos recolhidos. Abbas Mohajerani também provou ser possível a utilização desses na fabricação de tijolos. Além de ter eficiência comprovada, é possível reduzir a poluição na fabricação desses tijolos.
- Reutilização de rejeitos de minério:
Duas barragens de rejeitos foram rompidas em Minas Gerais nos últimos cinco anos, destruindo as cidades onde eram situadas e trazendo demais prejuízos já abordados acima. Pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) conseguiram reutilizar os rejeitos de minério encontrados em Mariana na fabricação de tijolos, onde o rejeito devidamente separado e tratado pode substituir até 80% dos agregados sem prejudicar seu desempenho. Atualmente é estudado sua aplicação em estradas.
Existem diversas alternativas para a reciclagem que são viáveis e que auxiliam o meio ambiente, no entanto, é necessário lembrar que dentro de cada canteiro de obra deve ser incentivado a não geração de resíduos e o reuso à reciclagem, como recomendado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Por dia, o Brasil gera mais de 120 toneladas de resíduos de construção, e a construção civil gasta cerca de 21% de toda a água tratada do planeta. Por isso, é importante lembrar que a sustentabilidade também está em pequenas decisões dentro da obra, seja colocando em prática uma construção enxuta, reutilizando água da chuva ou reusando madeiras de molde de pilastras.
Fontes: Governo do Brasil, Engenharia É, Terra, Envolverde, AECWeb, Minas Faz Ciência